07/04/1986
Vimos um filme. A gravação era feita em stop motion com massa de
modelar. Possuía uma estética infantil, protagonizado por um menino moreno,
outro ruivo e uma menina de cabelo castanho claro. As crianças estão com um
senhor de cabelos brancos de frente a um portal. Ali surge uma criatura cujo
rosto é uma mascara toda branca tal qual as usadas no carnaval de Veneza.
Também tem roupa larga de cores vivas como uma fantasia veneziana. Porém,
máscara e roupas apenas flutuam sem haver corpo as vestindo.
O diálogo se inicia com a menina perguntando quem é a entidade, que
prontamente diz: "Eu sou um anjo". A máscara altera expressões
faciais conforme sua índole. Tem a voz metálica, calma, mas penetrante (lembra
o computador HAL do filme "2001, Uma Odisséia no Espaço"). O menino
moreno indaga qual o nome do ser, que responde "Satã". As crianças se
entreolham, o rosto da entidade se torna parcialmente demoníaco, perguntando a
eles qual o problema, e o mesmo menino responde ao Satã que "não há
nada", apenas que aquele não é bom nome para um anjo. Satã convida-os a
entrar no portal. Elas hesitam a ir, com exceção do ruivo que motiva as demais
crianças. Assim eles vão, só ficando o velho experiente para trás.
Do outro lado do portal, as crianças encontram uma pequena ilha
flutuando no espaço. Satã faz brotar flores e plantas com um poder mágico. O
menino moreno pergunta impressionado como ele "aprendeu" aquilo,
então o anjo-Satã explica que não foi bem "aprender", pois aquilo era
algo inerente do seu ser. Anjo-Satã pergunta quais são as frutas prediletas de
cada um, que respondem: "laranja!" (menino ruivo), "maçã!"
(menina), "uvas!"(menino moreno). Assim, aparece nas mãos de cada um
a fruta de sua escolha. Eles comem com gosto.
Logo depois, o anjo-Satã ressurge em outro ponto da ilha e cria ali um
pequeno castelo. Ele oferece argila para as crianças povoarem o pequeno reino
com bonecos. A menina cria um rei e rainha, o ruivo um soldado, em seguida, o
menino moreno coloca um boneco que ele chama de "amigo". Desta forma,
o pequeno reino é preenchido com muitos outras figuras, até que Satã
repentinamente faz uma magia para dar vida aos bonecos. Eles começam a andar e
a viver como se fossem humanos. Vê-se que eles possuem divisão de trabalho e
hierarquia social, pois há militares e camponeses que louvam o rei e rainha de
barro.
Ocorre uma reviravolta quando a menina faz uma vaca de argila que, ao
ser posta entre duas pessoinhas, passa a ser um objeto de disputa entre elas.
Desta forma, inicia-se um conflito generalizado no mini-mundo. Isto altera o
semblante do anjo-Satã, seu rosto antes liso, torna-se rugoso e demoníaco. Mas
ele mantém a entonação de sempre, diz se interessar por todos humanos, até
mesmo pelos mesquinhos como aqueles. Porém, ele esmaga os dois principais
bonequinhos do conflito. Eles são sepultados por seus colegas que, momentos
antes, brigavam entre si, mas que agora choram juntos. Isso faz Satã apontar a
curiosa condição humana. Por fim, ele anuncia a destruição do mini-mundo.
A terra se abre em terremotos,
raios caem do céu e abismos engolem o reino. Torres desmoronam como areia. Os
bonecos tentam se salvar, mas nenhum sobrevive. As crianças assistem o
sofrimento deles com tristeza. Satã avisa que não cometeu nenhum erro, pois ele
não concebe o significado de "erro". O menino moreno acusa o
anjo-Satã de assassinato, e este responde tortuosamente que isso não é o que
importa, pois pessoas não possuem valor, já que outras podem ser feitas se
necessário. Enquanto fala, o rosto de Satã se transfigura numa caveira. As
crianças fogem de volta para o portal. Anjo-Satan desfaz a pequena ilha e então
fala ao expectador: "A vida em si é
apenas uma visão, um sonho, nada existe além de você e um espaço vazio, e você
não passa de um pensamento."A câmera se afasta enquadrando um infinito
escuro com rosto de Satã no centro, que então mostra ser a pupila do velho
experiente.
Peter
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